Apesar de a temporada 2013 ainda parecer estar longe de um fim, a temporada 2014 bate à porta e já reserva para a Lusa, logo de cara, um grande desafio: conseguir disputar dignamente o Paulistão mesmo com todas as dificuldades que se colocam neste começo de gestão Lico. As dívidas vêm de todos os lados, o dinheiro não surge de nenhum, não se tem um álibi para contratar – afinal, disputará Série A ou Série B mais a frente? –, sem contar as dúvidas que pairam entre a torcida sobre a forma de trabalhar e pensar da atual diretoria.
Nunca houve grandes certezas e convicções sobre Ilídio Lico a frente do clube, sendo que essa indefinição cresceu com a “escolha de consenso”. Mesmo os que não colocavam a mão no fogo esperavam uma posição mais firme daquele que se apresentava como o opositor do catastrófico Manuel da Lupa. A propalada “união de todos em prol da Portuguesa”, ao mesmo tempo em que trazia um alívio por colocar um ponto final na gestão Lupa, instaurava um enorme ponto de interrogação no torcedor. Como foram as negociações? Em troca do quê o guloso presidente anterior abriu mão de ter um sucessor seu? Como será a composição da diretoria?
Antes mesmo de seu mandato começar, Ilídio viu uma bomba estourar em suas mãos. Em apenas mais um de seus momentos de “brincar de fazer justiça”, o STJD instaurou um caos no Canindé. Foi-se às últimas instâncias desportivas a nível nacional e não se falou mais nisso. Estranha-se o fato de a atual diretoria não se posicionar no caso. Não há apresentação de justificativa para não recorrer à Justiça Comum e muito menos para o silêncio com relação à luta incessante que os próprios torcedores travam para deixar a Lusa no lugar em que ela merece. E então, o que pensar de tudo isso?
Prefiro não mergulhar na onda de suposições e pré-conceitos em torno de uma gestão que está à frente do clube por apenas meio mês. Não considero muito prudente sair atirando em tudo e em todos por situações que quase ninguém conhece, inclusive eu. Confesso que não tenho a proximidade e o conhecimento necessários para formar uma opinião sólida a respeito de Ilídio Lico. E, por isso, já conversei com várias pessoas que o conhecem. Gente que o conhece há 30 anos e não tem mais contato, gente que convive com ele diariamente, gente que já trabalhou ao seu lado e até gente que o tem por amigo pessoal. Não ouvi nada de negativo até aqui. Porém, vamos por partes.
Lico herdou uma terra devastada. Até quem considerava Lupa terrível no futebol, mas competente administrativamente vê que estava totalmente errado. Nove anos de incompetência, incapacidade, feudalismo e desmandos são mais do que o suficiente para acabar com uma instituição. Não acabar foi milagre. Ilídio assumiu um clube – cujo futebol é o carro-chefe – com um elenco inchado, cheio de limitações e todo atrelado em dívidas deixadas pela diretoria anterior. Há pendências desde outubro com os jogadores. Dinheiro para pagar? Não havia nem duzentos mangos para arcar com a hospedagem do site do clube!
Ao mesmo tempo em que ouço que, no dia de reabertura da Federação Paulista de Futebol, o novo presidente foi pedir esmola e babar ovo para Marco Polo e José Maria Marin, escuto que ele foi tentar receber a cota do clube. Sim, tentar. Qual a surpresa? Metade da já miserável cota havia sido adiantada por Manuel da Lupa e a outra metade estava presa por problemas burocráticos. Pedir esmola? É, talvez realmente seja o termo. Porque era preciso correr atrás do único lugar onde a grana ao menos parecia certa, por um direito do clube. Parece que conseguiram liberar a grana que, pasmem, não paga sequer um mês de dívida com os atletas.
Concordo com a crítica de que Ilídio Lico não precisava, e nem deveria, elogiar publicamente os dois cartolas ainda mais em meio a briga que, mesmo fora dos muros do clube, é travada bravamente por torcedores na esfera judicial. Um problema que enxergo é a falta de força para peitar. E não digo política, digo falta de força para ficar em pé mesmo. Porque hoje, até os que achavam exagero, já têm como consenso que com a Série B a Lusa está mais fadada a acabar do que a se reerguer. Acho que a soma desses elogios com a falta de apoio da diretoria ao movimento que vem das arquibancadas fez com que a revolta crescesse como cresceu.
Por que não recorrer à Justiça Comum? Por que não apoiar abertamente a torcida? A primeira questão não me parece um bicho de sete cabeças. Não há consenso sequer entre advogados e juristas de que seria prudente o clube fazer isso. É um dilema, não é matemática. Enquanto uns dizem que a esfera esportiva não poderia encostar um dedo no clube, outros vêm com exemplos de que as represálias existem sim. E a Lusa, nesse caso, seria um mártir. Até que ponto compensaria? Assumir e acabar? Não me revolto tanto com essa questão, sinceramente. Porém, revolto-me com a falta de posicionamento, a falta de apoio à torcida, a falta de uma voz firme e do básico: uma justificativa. O momento é de bater da mesa e defender as cores, ainda mais no tão prometido “início de uma nova era” em um clube que quase nunca teve força política.
Repito que ainda acho cedo para algumas convicções e algumas cobranças, porém, o que vem faltando de verdade até aqui é uma prestação de contas para a torcida. Algo que, aliás, sempre foi ignorado pela gestão anterior. É vir a público, nem que seja por uma nota no site oficial, e explicar por que não vai a Justiça Comum, o que acha de os torcedores estarem correndo atrás, como está sendo composta a nova diretoria, quem está em qual cargo, clareza nos anúncios dos reforços, até honestidade com relação a situação do clube, por quê não?
Afinal, em nenhum momento a Portuguesa precisou tanto do apoio de seu torcedor como agora. Seja fora ou dentro de campo. A união não é desejável, é necessária. O abismo financeiro é gigante, as incompetências do passado estão engolindo o clube e esse ano de 2014 promete ser o mais difícil para a Portuguesa. Não se pode esperar nada além de uma permanência na Série A1 do Paulistão – basta ver os reforços e constatar que não há o que se fazer além disso – e sabe-se lá com o quê lutar com unhas e dentes no campeonato que vier pela frente, seja ele qual for. Porque, se a grana da TV não vier, só Deus sabe o que será do clube. A situação é sim catastrófica e desesperadora.
O problema é que para a torcida abraçar é preciso haver transparência. Não é possível que isso aconteça se o torcedor tem dúvidas sobre o porquê de a diretoria não entrar na Justiça Comum, de elogiar os donos do futebol brasileiro, de haverem boatos de caras mais do que conhecidas e nada bem quistas voltando ao Canindé, de a composição da diretoria estar sendo extremamente política e por aí vai. Se não há o que temer e o que esconder, por que não vir a público? Repito: tudo que ouvi sobre Ilídio Lico até o momento foi positivo. Porém, o silêncio amedronta e, gatos escaldados que somos, não colocamos a mão no fogo.
Creio que esperamos – e torcemos – todos por uma gestão realmente nova, profissional, guerreira e apaixonada pela Portuguesa. Afinal, se a atual diretoria falhar o clube acaba. Para que isso não aconteça já será necessário mover céus e terras. O clube não aguenta a mais uma gestão como a década de Lupa. Assim como não aguentará caso haja atrito entre torcida e diretoria. Sabemos que o time não será excepcional, não terá grandes qualidades e que o foco é se segurar de pé. Infelizmente, só nos resta apoiar. Contudo, apoiar quem? O novo ou a farinha do mesmo saco? A clareza ou a omissão? Quem nos representa ou quem se esconde? A diretoria precisa dar as caras e provar que nela podemos confiar. Pra ontem!
E você, torcedor lusitano? O que acha disso tudo? Participe e dê sua opinião! Comente abaixo!
Por Luiz Nascimento